quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Desabrochar...


Encorajada por Jorge Luís Borges, embalada pela sua poesia, talvez ainda tenha tempo de refinar a minha diferença...
"Se eu pudesse viver novamente a minha vida.
Na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido,
Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiénico.
Correria mais riscos
Viajaria mais,
Contemplaria mais entardeceres,
Nadaria mais rios.
Iria a lugares onde nunca fui,
Comeria mais sorvetes
E menos favas.
Teria mais problemas reais e menos imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata
E minuciosamente cada minuto da sua vida.
Claro que tive momentos de alegria.
Mas se pudesse voltar atrás trataria,
De ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feita a vida,
Só de momentos; não percas o agora.
Eu era um desses que nunca
Iam a parte nenhuma sem um termómetro,
Um saco de água quente,
Um guarda-chuva e um pára-raios;
Se pudesse voltar a viver, viajaria mais leve.
Se pudesse voltar a viver
Começaria a andar descalço no princípio
Da Primavera
E continuaria descalço até ao fim do Outono.
Daria mais voltas no carrossel,
Contemplaria mais amanheceres,
E brincaria com mais crianças.
Se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas vejam lá, tenho 85 anos e sei que estou a morrer".
Acredito que ainda vou a tempo, faltam-me mais de trinta anos, para viver e... Depois morrer sem penas!... Não existem tempos, ou idades para desabrochar...

domingo, 5 de setembro de 2010

Pétalas ao vento...

Formação inicial e contínua em Educação de Infância, mas sou assistente social, funcionária administrativa, "confessora", conselheira matrimonial, porque, soterrada em papéis, mutilada por padrões e massificações, atrofiada por cortes e limitações, amordaçada e castrada por retaliações, quase não vislumbro a educadora...E só quero ser EDUCADORA!...
Quero a infância mágica e a "não extinção" dos meninos...
Quero castelos onde ser rainha e, os meninos, príncipes e princesas, nobres e plebeus, pajens e cavaleiros, bobos e contadores de histórias, aviadores e mineiros, agricultores e marinheiros, caçadores de sonhos e fazedores de realidades...
Quero meninos a iniciarem, escolherem, e construírem o papel principal das suas próprias vidas...
Quero um reino democrata, consciente e activo...Um reino onde "ser igual se a diferença inferioriza e, diferente se a igualdade descaracteriza"... Um reino colorido e alegre, com corte e povo a "pensar com as emoções, sentir com o pensamento e a desejar tudo, apenas com a imaginação"...
Quero reinar no mundo mágico e encantado da INFÂNCIA...O único tempo e espaço, em que o ser humano, sublima a vida, fazendo co-existir toda a diversidade: borboletas e dragões, eremitas e vadios, fadas e camionistas, palhaços e carpideiras... Paz e guerra, som e silêncio, fantasia e realidade... Só os putos sabem viver por viver, remediando e curando a todo o momento, com um sorriso ou uma lágrima, os rasgões e as feridas que vão abrindo...
Não me obriguem a ser pastora de rebanhos e a tosquiar diferenças e possibilidades...
Só quero ser educadora. O ano lectivo apenas começou e, as pétalas, revolteiam e soltam-se por entre ventos inóspitos...

sábado, 4 de setembro de 2010

Começou... Mais um ano...

Do era uma vez, há muito tempo, um país que se exornava de esplendor e fascinava o mundo, hoje, perdeu-se neste pélago desbragado e despiciendo...

Em volutas de inércia, corrupção e oportunismo, arrasta-se para um hiante futuro, desencantado e estéril...

Eu e outros comparsas, como escuteiros vencidos pelo cansaço, bivacamos em florestas de possibilidades sonhadas, mas tolhidas por objurgatórias emanadas de todas as direcções e sentidos... Confusos e desorientados, tentamos a fusão de esforços em taumatúrgicos passos, tacteando como cegos, em busca de um empíreo que nos permita a serenidade da concretização... Pessoalmente, com frequência, apetece-me desistir, mas vem-me uns borborigmos cerebrais, uma prurigem cardíaca, que me impele para o desassossego, para o combate, denúncia...

Bestunta como sou e dependente de um ordenado, obrigatoriamente, vou acrescentar mais um mefistofélico ano há já longa carreira profissional... Ampara-me este desapego dos bens materiais, esta capacidade de sobreviver, apagando memórias... Depois, só através das memórias alheias recordo, como se não tivesse feito parte do que contam... E volto a sentir o pulsar de milhentas emoções e sentimentos que povoam o quotidiano em busca de novas e perdidas memórias...

Dos pusilâmines não “reza a história”, só um espírito dúctil é passível de sobreviver a este vórtice que açoita o país...Erros relapsos de governos sucessivos, conduzem-nos a um fétido esgoto, gerando saudosismo inerte, contaminando e empestando o presente, comprometendo e arruinando o futuro...

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Em jeito de apresentação...



Queria um enorme girassol de ternura para o mundo, mas... Vejo-me perdida neste pélago quotidiano de desencanto, frustração, impotência... Ao longo dos anos, foram caindo as pétalas e, não fossem os borborigmos cerebrais e a prurigem cardíaca que a indignação me faz nascer, a ilusão seria a não existência... O mundo das novas tecnologias e comunicações fascina-me pelas possibilidades, mas não me cativa pelo uso... De menina a mulher, fui usando uma escrita egocêntrica para espantar fantasmas, saber de mim, tentar descobrir/perceber na palavra registada, o turbilhão que assolava o interior e exterior desta complexa carcaça... Então, no século XXI, a minha filha, criou-me um blogue!!! Os desabafos continuam a ser egocêntricos mas, neste "jardim da blogosfera", existe a possibilidade de encontrar outras pétalas soltas que me ajudem a exornar o mundo dos afectos... Sim, porque do buraco negro profissional, mefistofélico e imprevisível (educadora há 32 anos), não vislumbro salvação ou encantamento...
Na minha horta/jardim, anualmente, a natureza ajuda-me a recriar e reinventar sonhos em novos e fascinantes girassóis... A ternura impressa em milhentas pétalas que vou distribuindo pelos amigos... Um girassol de ternura para quem quiser...