segunda-feira, 4 de abril de 2011

Sou avó...



Ser avó é acordar com sol todos os dias, mesmo quando chove e o Inverno deprime...

Sou uma avó orgulhosa (como todas), do neto que a recebe de braços abertos, sorriso babado, andar vacilante, olhar confiante... Um neto que, com o 1º ano, iniciou o seu calendário de aniversários... Pelas reacções, considero que o M. gosta da avó louca, que se emborrachou no seu primeiro aniversário, soltou palavrões inofensivos, exorcizando fantasmas (a Joana, aquela puta querida), peidou-se involuntariamente (a Joana não a denunciou), gargalhou até a cerveja a tolher!...
Uma avó primitiva, selvagem, que adora Rock, nada sabe de dança, mas que deixa os pés e o corpo vaguearem por paisagens inventadas no ritmo e auto-descoberta...
Uma avó que se encaixa nos mais variados contextos, explora e goza o improviso, o inesperado, o desconhecido, a diversidade, a surpresa, como plataforma de inclusão/reflexão de todos os encontros e desencontros que povoaram a sua existência..
Uma avó que investe na espiritualidade e afectividade, em detrimento dos paradigmas obsoletos e estéreis que sufocam e castram a nossa sociedade...
Uma avó que pergunta:
A um velho, deixou de ser permitido fazer determinadas coisas, porque o corpo o limita, ou porque a sociedade não vê com bons olhos, certos comportamentos em idades avançadas (dança e sexo, por exemplo)?... Os idosos são renegados, porque não acompanham o desenvolvimento tecnológico desenfreado, ou porque valorizam princípios e normas fora de moda?...
Uma avó que acredita na verdade que prevalece, talvez: o medo de encarar a nossa finitude... Ser velho é ter a morte ali tão perto!...
Desenganem-se!... Ser velho é abrir a consciência do efémero vivido... É a certeza de travessias conseguidas, a presença materializada da incógnita da partida... Quando se nasce, é a morte que nos enlaça, só não sabemos , quando acontece o desenlace!...
Uma avó com duas idades (ser velho é isso): a do corpo e a da mente e, a certeza (uma fragilidade), de precisarmos sempre uns dos outros, para podermos ser nós, consciencializando a nossa individualidade...
Uma avó que ama o neto pequenino, o olha como uma paisagem desconhecida, mas fascinante, o aperta em frenesins canibais, o curte e espera como uma música envolvente...

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